Projeto desenvolvido pela Fiep capacitou 31 indústrias paranaenses. Economia e respeito ao meio ambiente estão entre os resultados
Até meados do ano passado, era comum que os instaladores da empresa Flexiv Móveis para Escritório, localizada em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, levassem um aspirador de pó no momento da montagem para limpar a sujeira deixada pelo isopor utilizado nas embalagens. Hoje, onze meses depois do início do programa “Al-Invest: Clínica de Embalagens”, desenvolvido através do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), este equipamento não é mais necessário.
Segundo o gerente industrial e de logística da Flexiv, Emílson Silva, isso se deve às melhorias que foram implementadas na empresa através do programa. Além da substituição do isopor por um material ecologicamente correto, todo processo conceitual referente à questão das embalagens foi revisto. O resultado, segundo Silva, já pode ser mensurado: economia de 20% logo nos primeiros meses após estas mudanças.
Além da sua operacionalização ser feita via Fiep, o projeto “Al-Invest Clínica de Embalagens”, tem o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e conta com recursos do programa Al-Invest, da União Européia. Ele foi criado com o objetivo de fortalecer a capacidade de comercialização dos produtos das empresas de móveis e madeira do Paraná.
Através desta iniciativa foi fornecido suporte técnico para 31 empresas distribuídas em quatro importantes pólos moveleiros do Estado: Curitiba, Arapongas, Ampére e Francisco Beltrão. Ao longo de oito meses estas empresas receberam a visita de um especialista que realizou um diagnóstico da situação das embalagens utilizadas e propôs as ações necessárias para melhorar este aspecto.
Logística reversa - No caso da Flexiv, as mudanças oportunizadas pelo programa ocorreram principalmente na gestão dos resíduos sólidos. Além de trocar o EPE (isopor) por um material menos agressivo ao meio ambiente, no caso a Espuma de Polietileno Expandida (EPE), houve uma mudança também na prática corporativa, que viu nesta inovação uma oportunidade para trabalhar mais profundamente a questão da logística reversa.
Hoje, após a montagem dos móveis da Flexiv, as embalagens são recolhidas e podem ser reutilizadas, o que não acontecia com o isopor, que se quebrava neste processo. Quando não é mais possível sua reutilização, elas são encaminhadas para a reciclagem. Segundo Silva, quando há reutilização a economia chega a 45%. “A aparência do produto também ficou melhor e mais compacta”, afirma.
Os resultados desta iniciativa foram apresentados nesta quarta-feira (13) durante encontro da Rede CIN, realizado em Curitiba. Foram reunidos na capital paranaense representantes de Centros Internacionais de Negócios de várias regiões do Brasil. A apresentação da Clínica de Embalagens teve como objetivo divulgar este projeto com objetivo de aplicá-lo em outros Estados. Segundo a coordenadora do Centro Internacional de Negócios do Paraná (CIN-PR), Janet Pacheco, parte deste objetivo já foi alcançado. “Com o sucesso do projeto, vários estados já mostraram interesse em desenvolvê-lo”. Segundo ela, mesmo que a curto prazo o foco de muitas das empresas atendidas não seja o mercado externo, esta iniciativa está capacitando o setor para disputar mercado tanto com empresas nacionais quanto estrangeiras. “Quanto mais competitividade, mais preparadas estarão para ganhar novos mercados.”, avaliou.
Inovação - A importância de uma iniciativa como esta fica evidente quando observamos as características dos produtos da indústria moveleira. Geralmente compostos de mais de um material (madeira, metal, vidro, etc.), são peças que frequentemente aliam um grande peso a um acabamento frágil, condições que exigem muitos cuidados no manuseio e – principalmente – no transporte. “Sem contar que, em muitos casos, é preciso planejar a embalagem do móvel montado e desmontado.”, completa o especialista em embalagens Emílio Menezes, que prestou consultoria às empresas inscritas no programa. Segundo ele, o tema proposto pela Fiep é inovador, pois muitos setores ainda não estão sensibilizados para a importância deste elemento nos seus processos produtivos. “A embalagem se comunica com o consumidor, é a primeira coisa com a qual ele tem contato.”, afirma.
A consultoria dividiu-se em três etapas. Na primeira, Menezes realizou o diagnóstico individual de cada empresa analisando particularidades como o tipo de produto fabricado, as características dos processos, os materiais utilizados, distribuição, etc. A segunda e a terceira etapa destinaram-se à assistência técnica propriamente dita. “Algumas precisavam de melhoria gráfica, outras de melhoria conceitual e havia aquelas que tinham problemas com os fornecedores.”, lembra o especialista.
Apesar da dificuldade em desenvolver sistemas de embalagens para móveis, que têm características próprias e distintas entre si, Menezes acredita que os conceitos empregados por ele ao longo do trabalho foram incorporados pelos empresários paranaenses. Ele se afirmou surpreso com a receptividade deste público. “Apenas 10% das empresas não aproveitaram totalmente a consultoria.”, afirma. Além da participação maciça dos envolvidos, o comprometimento do empresariado também gerou resultados positivos. “O cronograma foi seguido à risca e ainda conseguimos entregar os produtos uma semana antes do previsto.”, comemora.
Resultados - Também o empresário Aurélio Sant’Anna, presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná (Simov) e proprietário de uma das empresas contemplados pela iniciativa, vê motivos para comemorar. Segundo ele, o projeto da Clinica de Embalagens foi oportuno, pois surgiu em um momento em que diversos atores do setor moveleiro se preocupavam em modernizar seus processos, focando questões como design e sustentabilidade, conceitos que foram trabalhados à exaustão durante o processo de capacitação.
Na empresa de Sant’Anna, as melhorias propostas pelo consultor foram aplicadas em sua totalidade. Segundo ele, o mesmo teria ocorrido com diversos colegas do setor. “Muitas vezes o pequeno empresário moveleiro não está informado o suficiente para descobrir quais são suas demandas nesta área.”, observa.
Neste sentido, a Clínica de Embalagens funcionou como a solução para um problema que ainda não havia sido identificado totalmente pelo setor. Ao se antecipar à esta questão, ela forneceu uma oportunidade ímpar para os empresários transformarem seus processos para conquistar mais mercados.
Dentre as mudanças adotadas após a consultoria, os rótulos dos produtos da empresa de Sant’Anna agora são impressos em três línguas (português, inglês e espanhol). Mesmo que não vislumbre o mercado externo a curto prazo, ele observa que agora está mais preparado para seguir este caminho.
Além do Simov, o programa também conta com o apoio do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (SIMA) e do Sindicato das Indústrias de Madeira e Móveis de Francisco Beltrão (SINDIMADMOV).
Al-Invest – O programa Al-Invest é uma iniciativa da Comissão Européia para apoiar a internacionalização das pequenas e médias empresas da América Latina. O programa tem como objetivo favorecer a capacidade de desenvolvimento do setor privado nestes países facilitando sua entrada no mercado europeu. O primeiro projeto Al-Invest no Brasil foi realizado em 2009.
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